terça-feira, outubro 07, 2008

Tall Ships (nocturnos)










Fado Português

O Fado nasceu um dia,
quando o vento mal bulia
e o céu o mar prolongava,
na amurada dum veleiro,
no peito dum marinheiro
que, estando triste, cantava,
que, estando triste, cantava.

Ai, que lindeza tamanha,
meu chão , meu monte, meu vale,
de folhas, flores, frutas de oiro,
vê se vês terras de Espanha,
areias de Portugal,
olhar ceguinho de choro.

Na boca dum marinheiro
do frágil barco veleiro,
morrendo a canção magoada,
diz o pungir dos desejos
do lábio a queimar de beijos
que beija o ar, e mais nada,
que beija o ar, e mais nada.

Mãe, adeus. Adeus, Maria.
Guarda bem no teu sentido
que aqui te faço uma jura:
que ou te levo à sacristia,
ou foi Deus que foi servido
dar-me no mar sepultura.

Ora eis que embora outro dia,
quando o vento nem bulia
e o céu o mar prolongava,
à proa de outro velero
velava outro marinheiro
que, estando triste, cantava,
que, estando triste, cantava.

José Régio


1 comentário:

Celeste disse...

E estava eu aqui a ouvir o CD do filme Mamma Mia (a bordo tb havia musiquinha dos Abba)e Tânia manda-me este link...quando abri, vi e... chorei de saudade. Pode ser difícil de entender mas ficaram marcas que jamais se apagarão...Adorei!
Parabéns por tudo...os poemas são lindos!
celestegomes@gmail.com (Maria KK)